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Jaqueline M. Souza

Exercício n° 06: Estrutura de 3 Atos na prática


A estrutura de três atos segundo Syd Field ( quase o nome de um filme bíblico)

Estrutura é um dos temas que mais amamos em roteiro ( junto com todos os outros hehe). Mas ao mesmo tempo, se temos vários textos falando sobre estruturas específicas como Beat by Beat do Blake Snyder, A Promessa da Virgem da Kim Hudson, The Sequence Approach e muitos outros, de outro lado, fica a sensação de que o que menos falamos por aqui é da estrutura clássica de Três Atos. Obviamente, muitas dessas estruturas citadas também se adequam a estrutura de três atos, apesar de pensá-la de uma forma mais segmentada.

Só que a gente nunca falou do mais básico, do famoso todo: o começo, meio e fim, citado desde Aristóteles. E a gente ficou pensando que não queria falar sobre estrutura de três atos do jeito tradicional, justamente por ser o que todo mundo mais fala de um canto a outro de roteiro, mas que poderíamos ir além e pensar estrutura de três atos na prática e ainda reunir vários posts da Tertúlia de uma só vez, já que outra coisa que vivem nos pedindo é para criar uma cronologia de leitura, uma ordem de por onde começar nos artigos do site.

Então para reunir a fome com a vontade de comer, propomos um exercício, fruto de um exercício que propus em uma aula que ministrei recentemente e que adaptei para o site. A proposta é levantar perguntas que ajudem no desenvolvimento de sua trama, e aqui uni essas questões à sugestões de leitura com alguns posts do site ( só alguns mesmo, hoje são mais de 100 textos da Tertúlia espalhados entre os posts do blog, artigos e o Medium), tudo pensado em cima da estrutura de três atos.

Não é uma fórmula, tampouco o único jeito de escrever roteiro. Nenhuma das perguntas envolvem obrigações que devem ser cumpridas. Isso não é uma lista para dar check, não são todas as histórias que funcionam nesse formato ou mesmo que passam por todas as questões aqui apresentadas. Leia, reflita, experimente e entenda a função de cada uma das questões e o que elas podem acrescentar a sua trama.

Você pode trabalhar com dezenas de outros formatos e estruturas, e inclusive com nenhum deles, mas estude-os para não correr o risco de gastar anos descobrindo a roda.

É isso, boa leitura e bom exercício!

PS.: A ideia é que esse post seja bem orgânico e vá sendo atualizado de tempos em tempos com a inclusão de novas sugestões de leitura!

1° ATO - A APRESENTAÇÃO

  • Quem é a protagonista? Que características e traços de personalidade ela tem? (esperançosa, solitária, bem-sucedida, sincera, egoísta, insegura, confiante, resistente, etc.) Reúna várias características para ter personagens mais complexos e se as características tiverem certa (aparente) contradição entre si, provavelmente mais interessante essa personagem será.

  • Como MOSTRAR essa personalidade e psicológico em cena? Como caracterizar a personagem?

  • Qual é o mundo inicial, qual a rotina, quem é quem? Qual a melhor forma de apresentar esse mundo?

  • Qual é o Incidente Incitante? Ele acontece em cena ou antes do início de sua trama? E como esse evento altera o mundo da personagem?

  • Existe um momento de escolha da personagem, algo que mostre seu comprometimento com (ou que a obrigue a) enfrentar essa jornada? Se sim, qual é?

2° ATO - A CONFRONTAÇÃO

  • Agora, a personagem já adentrou um novo mundo para enfrentar essa jornada. O que muda? Existe uma segunda linha narrativa? Um subplot? Ele entra aqui.

Sugestão Extra: Vídeo do canal Lessons from the Screenplay falando de subplot

  • As primeiras tentativas de solução vão sendo exercitadas. Como?

  • Ação crescente, tentativa após tentativa, os riscos/perigos vão ficando maiores. O próprio problema vai crescendo. Progressão. Como criar um segundo ato em que esse crescente seja interessante e original?

  • Existe um ponto de reversão, no meio da obra, o Ponto Central? Se sim, qual é essa reversão em sua trama? Como ela altera o que vimos até aqui? ( Não faça uma reversão radical para não correr o risco de parecer dois filmes diferentes).

  • O Ponto Central é um ponto importante de transformação dentro do arco do seu personagem. Sua personagem irá sofrer uma transformação ao longo de sua história? Se sim, é no Ponto Central que pela primeira vez, podemos ver um brilho de quem efetivamente ela pode ser.

  • Sua personagem avaliou bem as situações e tomou as melhores escolhas? Essas escolhas resultaram no que e como esses resultados influenciam a trama a partir de então?

  • A personagem faz novas tentativas, mas ainda falha. A sequência de derrotas, lança a personagem em um momento de dúvida/crise?

3° ATO - A RESOLUÇÃO

  • Não há mais como evitar. Tudo o que vimos até aqui leva a um momento de convergência, o ponto alto dramático, onde o confronto final ocorre. O que é esse momento em sua trama? Como a personagem sai desse momento? Alcança o que buscava ou não?

  • Se sua personagem passa por uma transformação, aqui é onde iremos vê-la plenamente transformada. Como enfrentar essa história a transformou? (Lembre-se, não são todas as histórias que pedem uma transformação dx protagonista).

  • Depois do clímax, chegamos aos últimos momentos, onde outros elementos da linha narrativa se encerram e as pontas soltas são amarradas. O que é importante trabalhar nesse momento de sua história?

OUTRAS QUESTÕES PERTINENTES DURANTE O DESENVOLVIMENTO

  • Seu roteiro dialoga com algum gênero? Que convenções envolvem esse gênero? Como você pode homenageá-lo ou subvertê-lo?

  • Sobre o que é sua história? Sobre o que você quer falar? Quais temas quer abordar? Personagens podem ser desdobramentos do tema, pense nisso…

  • Como a estrutura e sua protagonista ajudam a passar essa mensagem?

  • Qual a ideia central/governante? Como essa ideia impulsiona a história ou é testada nas cenas?

  • O​ que ​sua protagonista quer ​?​ O que ela precisa? O que impede a protagonista de conseguir? Não é sempre que esse obstáculo é um antagonista!

  • Qual o conflito central e como ele define a jornada de sua protagonista? Lembrete: Nem todas as histórias tem conflitos centrais, veja como exemplo, a estrutura oriental, Kishōtenketsu.

  • O que está em jogo? Quais são os riscos envolvidos em falhar/não cumprir sua jornada ( a vida do protagonista ou de alguém ligado a ele, a perda de algo ou alguém, a loucura, a perda de si mesmo, etc)?

  • Como definir o tempo narrativo de sua trama pode lhe ajudar? Sua história teria o mesmo impacto e força se se passasse em um dia, uma semana ou ao longo de dez anos?

  • Pense o encadeamento das cenas. Que cenas e situações você precisa para contar essa história? Como a sucessão delas pode ajudar a contá-la melhor?

  • Quão singelos você quer que seus beats ou pontos de virada sejam? Lembre-se que um simples toque ou um aperto de mãos pode ser um evento significativo dentro do seu roteiro se você assim o construir. Sugestão de leitura: Ação não é Ação Dramática: ou porque certos filmes são chatos

  • Todos os pontos apresentados aqui são necessários para sua trama? Como você pode mudá-los e manipulá-los para melhor expressar sua trama?

  • Como aplicar seu Estilo nesse formato? Como subverter essa estrutura e ainda conseguir comunicar eficientemente sua trama?

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