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Jaqueline M. Souza

O que os finais de Two and a Half Men e Parks e Recreation, nos ensinam sobre séries


Contêm spoilers

Recentemente, duas grandes séries de sitcom chegaram ao fim, Two and a Half Men e Parks and Recreation. Two and Half men é uma sintese televisiva de ascensão e queda. Charlie Sheen emprestou seu carisma e histórico de bad boy para dar vida a Charlie Harper, o que fez sucesso e manteve a alma da série durante bom tempo. Vale lembrar que Chuck Lorre,assim como todo o público, já conhecia este histórico, e fez bom uso dele quando lhe interessou. Acontece que neste meio tempo algo mudou. Chuck Lorre se tornou o produtor/criador das duas séries de maior audiência dos Estados Unidos, a própria Two and a Half Men e Big Bang Theory. Agora, não só precisa lidar com o ego gigantesco de sua estrela principal, como com o seu próprio.

A imagem desvairada de Sheen, encerrou a discussão como aparentava ser o caminho correto, com sua saída do show. Chuck deu aí, o primeiro indicio de que seu ego ( e o dinheiro entrando em sua conta corrente) era mais importante do sua história, e decidiu continuar o show. Mas não fez isso com muito afinco. Decidiu substituir a presença de Sheen por um nome em voga, Ashton Kuscher, e chegou a mudar a lógica de seus personagens para que coubessem no novo formato. Alan, de loveable loser, um ser compeltamente desprovido de sorte e talento, mas que tenta com todas as suas forças e limitações, fazer as coisas darem certo, é transformado em um simples oportunista, por exemplo. As trocas de acusações entre Sheen e Lorre, são públicas, e cada um segue seu caminho. Lorre consegue o inesperado, e mantêm a série apesar dos altos e baixos ( bem mais baixos do que altos, por sinal) mais cinco temporadas no ar.

Parks and Recreation, surge de um pedido da NBC de spin off da série The Office. Greg Daniels e Michael Schur , decidem sugerir uma nova série, independente The Office, mas com muitos de seus elementos, como a opção por um ambiente de trabalho e o formato mockmentary. Surge assim, Parks and Recreation. Michael Schur, antigo roteirista do Saturday Night Live, encontra em Amy Poehler, nome já conhecido do público da comédia e um dos nomes em maior destaque de sua geração, uma atriz com talento para dar forma a Leslie Knope, sua protagonista. A própria personagem vai ganhando personalidade ao longo da primeira temporada, já que inicialmente, Leslie parece uma versão feminina de Michale Scott, com seu temperamente ingênuo e egocêntrico, que muda ao longo do tempo para um personagem excessivamente apaixonada por sua profissão.

Personagens saem de cena, como Mark Brendanawicz e outros entram como Ben Wyatt , sempre sendo respeitados, mantendo-se a lógica definida dos personagens e levando a série adiante. Potenciais são vistos e incorporados a história, como os persoangens de Andy e Ron Swanson. Andy, por exemplo, é o motivo pelo qual a históra começa, o incidente incitante, ao cair em um buraco ao lado de sua casa, fazendo com que sua namorada vá até Leslie e proponha a criação de um parque público no espaço. Cris Pratt inicialmente estava escalado para apenas 6 episódios da primeira temporada, mas seu talento, carisma e o sucesso do personagem, vão dando cada vez mais espaço as suas histórias, tornando-o um persongem fixo e lançando Pratt hoje no primeiro escalão de Hollywood.

A série não começa muito bem de audiência, mas vai tomando voz própria e se definindo ao longo das temporadas. Personagens pouco explorados, vão ganhando nova dimensão, e os realizadores deixam claro, como se importam. Nunca foi um sucesso de audiência, mas mantêm um público fiel e engajado, o que muitas vezes, foi o sucificiente para mantê-la no ar, apesar das contantes dúvidas, sobre seu cancelamento, o que nunca ocorreu.

Aqui entra a diferença básica, entre os encerramentos que Michael Schur e Chuck Lorre deram as suas séries.

Chuck Lorre, nunca deixou tão claro que ele próprio é uma espécie de Charlie Harper, uma pessoa egoista e narcisista, que não se importa com a opinião dos outros e que precisa demonstrar sua superioridade através do sarcarmo. O episódio final de Two and a Half Men deixou isso explicito. Não houve interesse em dar um final digno a trajetória dos protagonistas, que o público generosamente acompanhou durante os últimos 5 anos. O que importou para Lorre foi demonstrar o seu poder como criador colocando na boca de personagens ataques a Charlie Sheen para aliviar seu ego ferido. Afinal que outra intenção existe em criar uma cena, onde os dialogos são: “’Ele tem alguns problemas em controlar a raiva’, ‘Ele já tentou um Tratamento de Choque (Anger Management)?’, ‘Sim, mas não deu certo’. Referência clara a série com Charlie Sheen.

Arnold Schwarzenegger, em participação especial no episódio final, fazendo piada sobre a carreira de Charlie Sheen

Apesar de todo esta luta de egos entre Charlie Sheen e Chuck Lorre, parece que Lorre, também resolveu estender sua briga com o próprio público, como se tivesse entendido a diminuição da audiência do programa após a saída de Sheen, como um ataque direto a ele mesmo. Aqueles que persistiram em assistir ao programa, não foram recompensados por Chuck com um final digno a personagens que acompanharam por 12 temporadas, mas com tiradas como:

"Incrível, como você fez tanto dinheiro, com piadas tão estupidas" Sim, Lorre, incrível!

Colocar que personagens evoluiram de forma organica para melhorar sua criação, se afastandos dos estereotipos iniciais.

Já Michael Schur, deixou claro, que Leslie Knope, a personagem que se importa demais com coisas tão simples, apaixonada demais por um trabalho que mais ninguém valoriza, era uma extensão de si mesmo. Trouxe Amy Poehler como co-roetrisita de seu último episódio, encerrou arcos até de personagens secundários com Jean-Ralphio e não deixou em momento algum que seus personagens saissem de sua lógica interna. Para satisfazer o público, que lhe deu oportunidade de colocar seu nome, junto aos grandes da comédia televisiva americana, entregou um último episódio cheio de resoluções sobre o presente e o futuro de seus personagens. Fez Tom Haverford, de narcisista e consumista, se transformar em um homem, que pede sua namorada em casamento, da forma mais simples e significativa para ambos. Fez Donna, também consumista e ligada a dinheiro, se transformar na mulher que entende e valoriza o trabalho voluntário. Fez Ron Swanson, um dos melhores personagens de comédias da história da tv, se transformar do ser avesso a mudanças e ao contato humano, em alguém que percebe que quer algo diferente para sua vida e termina de mãos dadas com aquela que reconhece ser sua melhor amiga.

Ron Swanson e Leslie Knope em uma linda cena sobre a amizade

E para deixar claro que não esqueceu suas origens, fez até referência a série The Office, de maneira sutil e charmosa.

Ron Swanson e Leslie Knope ao som de Ryan started the Fire, paródia famosa da série The Office. O fogo continua queimando...

Schur mostra respeito não só a seus personagens, mas a seu público, o que é algo raro na séries de hoje em dia. Ano passado, com o final de How I Met Your Mother, isso ficou claro. HIMYM teve um final que correspondia exatamente ao arco de seus personagens e história. Apesar dos diversos pontos ao longo da história de Ted Mosby, que indicavam que a história ia além do encontro com a Mãe, quando isto foi revelado no episódio final, o público se sentiu traído.

How I Met Your Mother, final completamente acertado para os personagens, mas não para o público.

Se sentiu traído por acompanhar uma temporada inteira, em que cada episódio reafirmava que Robin e Barney formavam um casal que superariam todas as dificuldades , para revelar no último episódio que se separaram 3 anos após o casamento. Se sentiu traído, após esperar a tão famosa frase " And that's kid is how i met yor mother", ter como resposta que a história não era sobre isso. E realmente não era. A verdadeira questão é seguir o caminho correto para os personagens ou seguir o caminho que irá satisafer os fãs. Às vezes, ambos são possíveis ao mesmo tempo, mas às vezes não.

Aí reside, o maior desafio dos criadores. Satisfazer não só os personagens que criaram e desenvolveram ao longo de tantos anos, mas também as relações que o público cria com a história e estes personagens. Por isso, Schur acertou em cheio ao criar um final que conseguisse ambos. Enquanto isso, Lorre optou por tanto a sua história quanto seu público para trás e satisfazer seu ego. Na Television Academy Honors, durante a premiação de sua nova Mom, ele pediu desculpa por Two and a Half Men. A fala de Chuck Lorre foi exatamente:"‘Mom’ é uma série sobre pessoas buscando redenções para suas vidas e reparar os danos que elas causaram. E, para mim, é uma oportunidade de me desculpar por “Two and a Half Men”. Não deu mais explicações, apenas se desculpou. A verdade é que uma série não pode redimir outra, pois são únicas, tem públicos diferentes e contextos distintos. Independentemente de quão boas sejam, Mom and Big Bang Theory não poderão apagar da memória dos fãs de Two and a Half Men a grande banana que receberam de Chuck Lorre. A melhor forma de se desculpar por Two and a Half Man era lhe dar um final digno. E de todas as razões pelas quais se pode pedir desculpas por Two and a Half Men, talvez a maior delas é achar que se está ganhando, quando quem perde é o público.

Chuck Lorre "ganhando"

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